por Letícia Bahia
Karina, um amigo que temos em comum me mostrou uma postagem na qual você tirou um sarro de uma frase da Gloria Steinem em sua linha do tempo do Facebook. Feminista que sou, fiquei bastante tocada e por isso tomo a liberdade de te escrever esta carta. Espero não estar sendo invasiva. Escrevo com a melhor das intenções.
Karina, um amigo que temos em comum me mostrou uma postagem na qual você tirou um sarro de uma frase da Gloria Steinem em sua linha do tempo do Facebook. Feminista que sou, fiquei bastante tocada e por isso tomo a liberdade de te escrever esta carta. Espero não estar sendo invasiva. Escrevo com a melhor das intenções.
Em primeiro lugar, todo o meu respeito pelas suas conquistas. Você alçou vôos usualmente reservados apenas aos homens, e no mais alto deles, Karina, você subiu a montanha mais alta do mundo. Heróico. Por esse e outros feitos você conseguiu notoriedade e espaço na mídia. Além de médica especializada em medicina de emergência e resgate em áreas remotas (a única no Brasil com este título!), você também apresenta programas e quadros sobre esportes de aventura em diversos canais. Com apenas 32 anos, Karina, você já tem uma biografia e tanto – para uma mulher.
Eu não sei se você conhece a Gloria Steinem. Vou lhe contar um pouco sobre essa grande mulher. Ela hoje tem 80 anos, e ganhou notoriedade na década de 60, no contexto da revolução feminista. Jornalista, Gloria se passou por garçonete para se infiltrar nos bares da Playboy e acompanhar a rotina de trabalho das chamadas coelhinhas da revista. O resultado dessa investigação ousada foi um artigo que revelou as condições degradantes a que as garotas eram submetidas. As situações que Gloria descreve vão de violações aos direitos trabalhistas à cafetinagem. Por esse e outros trabalhos, Gloria Steinem se tornou um ícone do movimento feminista.
Vocês duas são pioneiras, são mulheres que adentraram bravamente universos que o mundo insiste em reservar aos homens. Gloria Steinem sabia disso, e foi por isso que ela disse, Karina, que “uma mulher sem um homem é como um peixe sem uma bicicleta”, a frase que você achou besta e engraçada.
Eu não sei se você conhece a Gloria Steinem. Vou lhe contar um pouco sobre essa grande mulher. Ela hoje tem 80 anos, e ganhou notoriedade na década de 60, no contexto da revolução feminista. Jornalista, Gloria se passou por garçonete para se infiltrar nos bares da Playboy e acompanhar a rotina de trabalho das chamadas coelhinhas da revista. O resultado dessa investigação ousada foi um artigo que revelou as condições degradantes a que as garotas eram submetidas. As situações que Gloria descreve vão de violações aos direitos trabalhistas à cafetinagem. Por esse e outros trabalhos, Gloria Steinem se tornou um ícone do movimento feminista.
Vocês duas são pioneiras, são mulheres que adentraram bravamente universos que o mundo insiste em reservar aos homens. Gloria Steinem sabia disso, e foi por isso que ela disse, Karina, que “uma mulher sem um homem é como um peixe sem uma bicicleta”, a frase que você achou besta e engraçada.
Achei mais de uma dúzia de reportagens se derretendo por você, Karina, por ter sido a terceira brasileira a subir o Everest. A terceira! Sabe por que isso é um feito tão grande, Karina? É porque você é mulher, e o mundo se surpreende quando grandes feitos são conquistados por mulheres. Nós fomos e seguimos sendo sempre as últimas a realizar tudo que pode parecer grandioso: presidir um país democrático, ser âncora de um telejornal, ocupar a presidência de uma grande empresa, ganhar seu primeiro milhão e também subir o Everest. O mundo sabe que tudo isso é mais difícil para nós, mulheres, e reafirma isso a cada vez que anuncia a história da primeira mulher a fazer qualquer coisa. Não deveria ser mais difícil pra nós, Karina, e é violento e criminoso que seja. O pleito do feminismo é simplesmente a igualdade. Quantos homens chegaram ao Everest antes de você? Quantas mulheres escrevem roteiros para os programas que você apresenta? Quantos dos aventureiros a que você prestou socorro eram mulheres?
A tristeza nisso tudo, Karina, é que a Gloria Steinem está errada. Acho que ela sabe que aquilo ali é o mundo como ela deseja, não como é. Acho que ela sabe que o mundo olha para uma mulher sem um homem como se ela não estivesse completa. Muitas de nós efetivamente se sentem assim, mas nós não deveríamos ser julgadas por sermos autossuficientes - como não são os homens. Nós deveríamos, de fato, ser como um peixe sem uma bicicleta. E podemos ser, como você foi. Nós podemos, sim, subir o Everest. Poderíamos ter chegado lá junto com eles ou mesmo antes, se nos fossem concedidas as mesmas liberdades e oportunidades. Nós não precisamos de homens para fazer e acontecer. Nós precisamos de pessoas, de parcerias, de equipes competentes. Quem nos ajuda pode ser homem, mulher, transgênero ou o que for. Mas continuam nos empurrando homens. Para assistir nos jornais, para votar, para comandar a bolsa de valores e também para subir o Everest. Tiro meu chapéu pra você, Karina, que conseguiu chegar lá mesmo com os obstáculos que se impõem a você simplesmente por ser mulher. Desejo que você perceba o tamanho da sua proeza e do seu poder. Desejo que você se case com seu namorado e tenha filhos com ele, se esse for o seu desejo, mas também que você possa ser livre para viver uma vida inteira solteira se isso lhe fizer feliz.
É maravilhoso que uma criança hoje possa assistir TV e ver que no alto do Everest tem uma mulher. Mas nós precisamos de mais, e existe um sem fim de mulheres lutando pra conquistar os cumes do mundo e compreender os infinitos e complexos mecanismos que garantem, ainda hoje, que a presença feminina seja escassa nos Everests, nos governos, nas redações de jornais. Pra que a gente possa ter as mesmas possibilidades que o mundo garante aos homens precisamos reconhecer e mostrar ao mundo que hoje a realidade é desigual, que hoje o mundo aceita um homem sem uma mulher e um peixe sem uma bicicleta, mas questiona o valor de uma mulher sem um homem. O convite do feminismo, Karina, é um convite à igualdade.
Obrigada mostrar ao mundo que os cumes também podem ser nossos.
* texto originalmente publicado no Facebook pessoal da autora
Lagarta, já pode voar porque você que já lacrava esse casulo lacrou o mundo com as asas dessa borboleta linda que virou com esse post. Parabéns, bora fazer chegar na Karina? Seria legal se ela tivesse oportunidade de fazer parte de discussões feministas e conhecer outras mulheres que vencem desafios e sobem Everests cotidianamente.
ResponderExcluirA Karina Oliani faz sensacionalismo e usa do fato de ser mulher para se promover. Está longe de se dedicar a causa das mulheres, pelo contrário, sempre reforça q os papéis são masculinos e que há espaços delimitados para mulheres e outros para homens.
ResponderExcluirEsta Karina não tem conteúdo para qualquer discussão de cunho feminista, e sempre que pode, ressalta que que "faz tudo isso sem deixar de ser mulher", fato que resume a escovar e cuidar dos cabelos, entre outras vaidades dela. Entretanto, de qualquer forma, é educado enviar o artigo a ela, para tentar ajudá-la a abrir-se ao mundo mais igualitário.
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