Mostrando postagens com marcador aborto. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador aborto. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Mas e o feto?

[Se você precisa de um aborto, esta organização pode te ajudar]

"Mas, gente, e o feto?". Atreva-se a fazer essa pergunta em um papo com feministas! Mas atenção: recomendo antes verificar se as saídas de emergência estão desobstruídas, porque a reação vai ser braba. Se for em grupo de Facebook, então, aí é que a coisa engrossa mesmo. É que quando você pergunta "mas e o feto?", boa parte das feministas escuta outra coisa. Elas automaticamente supõem que você é contrário à descriminalização do aborto - uma posição inadmissível dentro do movimento. O curioso é que as condições básicas para que aconteça um aborto são as seguintes: 1) uma mulher; 2) um feto. Mas o Feminismo, salvo exceções, não topa discutir o item 2. Será medo? Será que temos medo de encontrar em um fundo de gaveta algum sentimento, algum pesar pela vida do feto? Será que estamos tentando tapar a vozinha que sopra "mas ele também tem direitos..."?



Não consigo compreender a recusa em falar sobre o feto como outra coisa que não uma defesa contra as respostas que o Feminismo não quer enxergar. Nós já estamos cansadas de ler, ouvir histórias e assistir a documentários sobre as mulheres que morrem por conta de abortos inseguros. E devemos continuar repetindo essas histórias, porque essas mulheres existem. Mas, companheiras, o feto também existe. Existe enquanto realidade concreta e existe na dimensão simbólica, seja na recusa das feministas (recusar é atestar a existência) ou na empatia infinita daqueles que sofrem pelos fetos abortados. A pergunta está na mesa, irmãs. É nosso desafio aceitá-la. É o único caminho possível para comprovar - ou seria verificar? - que a legalização do aborto é a única solução humana. E se a gente refletir sobre o feto e chegar à conclusão de que seus direitos devem prevalecer sobre os da gestante, que seja! Esquivar-se de um debate por medo das respostas no caminho é desonesto. Simplesmente coisa que não se faz. Dito isso, sigam-me os bons!



A primeira coisa a ser dita é que, ao contrário do que se costuma crer, a discussão sobre aborto não é uma discussão sobre o direito à vida. Nós não temos problemas com a morte de células - como os óvulos e espermatozoides, por exemplo - e de plantas - dos eucaliptos de que fazemos portas e papeis até a salada. A maioria de nós não tem problema sequer com a morte de bois, galinhas, porcos, peixes e outros animais que saboreamos diariamente. Sim, o feto é uma vida. Ponto pacifico. Mas não, o problema do aborto não é matar uma vida. Então qual é o problema? Apertem os cintos que vamos começar a complicar a parada.



A turma que não curte abortos gosta de falar em abortos como "o assassinato de um bebê inocente". É assim, de fato, que elas percebem um aborto. E, gente, nós também achamos que o homicídio de um bebê é crime dos mais tenebrosos, confere? Todo mundo no mesmo pé? Avante, feministas, que chegamos ao ponto culminante: o que precisamos buscar entender é a diferença entre um feto e um bebê - se é que há diferença, não vamos começar com ganho de causa pra nenhum dos lados! Essa questão é o pote de ouro no final do arco íris desse debate! Para o alto e avante!

Pode elencar o que você quiser: capacidade de amar, de sentir empatia, de sentir dor, de se comunicar. Cidadania, pensamento, imaginação, racionalidade. Você pode pensar em qualquer característica que permita que você diga: "se o feto tem isso, então é um bebê". Eu te desafio: qualquer aspecto no qual você pensar vai depender completamente da existência de uma estrutura fisiológica chamada sistema nervoso central. Falando bem toscamente, é o que temos dentro da nossa caixola e da coluna vertebral: cérebro e medula. Eu sei que a gente gosta de pensar que somos seres transcendentais e que nossa luz seguirá se derramando pelo universo além da eternidade, mas até onde a ciência pode comprovar - eu sei, a ciência não é perfeita, mas ela é bem legal, vai - somos feitos de matéria e energia (não a dos duendes, a dos átomos), e até nossos mais psicodélicos sonhos decorrem de uma interação físico-química. Sonhos, aliás, são exemplos de fenômenos que não existem sem sistema nervoso central. Nós não sabemos ao certo se gatos e vacas sonham (todos os mamíferos têm sistema nervoso central), mas nós temos bastante certeza de que árvores e ostras não sonham. E nós também temos certeza: fetos não sonham, não amam, não sentem empatia ou dor, não se comunicam. Não têm cidadania, pensamentos, imaginação, racionalidade. 

Com 8 semanas. Você pode achar fofo; ele ainda não pode achar nada.
Pode parecer frio pensar no feto como um reles organismo. Tenho amigas que planejaram suas gestações e amaram seus fetos a partir do instante em que o xixi fez aparecer dois risquinhos no teste de farmácia. É que as minhas amigas têm sistema nervoso central, e quem tem sistema nervoso central - vejam que bonito - tem capacidade de amar o que for: fetos, animais, dinheiro, a poltrona da bisavó. Há até quem ame ideias extremamente complexas como o universo, o anarquismo ou algum deus. Mas o feto, embora esteja crescendo e se alimentando na barriga da gestante, não pode corresponder ao afeto que os adultos ao redor da barriga eventualmente dediquem a ele, tanto quanto nenhuma das minhas preciosas orquídeas pode me amar de volta. Eu sei que é tocante ver aquelas imagens dos fetos dentro da barriga. Eles parecem tão humanos, com seu bracinhos de tiranossauro e sua cabeça desproporcional e translúcida! Mas essa é só uma imagem que nosso sistema nervoso central, via de regra, traduz como digna de afeto. É bonito que sejamos capazes de sobrepor aos fatos os mais diversos afetos, mas é tolo negar os fatos. Os fetos podem vir a ser milhares de coisas. Eu e Hitler, você e Gandhi, todos já fomos fetos. Mas para falar sobre aborto precisamos nos referir não ao que o feto pode se tornar, mas ao que é. 

Fato: não existe nenhum conflito moral no aborto de um feto sem sistema nervoso central formado. É por isso que a lei que se discute hoje no Brasil (fiquem tranquilos, não tem nenhuma chance de passar) autoriza o aborto até a décima segunda semana de gestação. Essa data é apontada pela Medicina como o marco após o qual o feto já seria capaz de sentir, uma vez que seu sisteminha nervoso central já estaria lá. Tem gente que é a favor do aborto mesmo depois disso, mas aí a discussão é outra. Aqui eu falo sobre o parâmetro que balizou as legislações de praticamente todos os países que descriminalizaram o aborto. Falo sobre a questão que já foi exaustivamente debatida em todos os tribunais internacionais que se prezem: aborto até a décima segunda semana, gente, tá tranquilo, tá favorável. 

Pra finalizar, faço um apelo às irmãs de luta para que enfrentem as perguntas de quem discorda de nós. Nós precisamos respondê-las, e precisamos inclusive pautá-las. Você deve ser capaz de olhar nos olhos do feto, e se encontrar lá alguma poeira de humanidade - mesmo que seja por motivos religiosos - você precisa se perguntar se é realmente a favor do aborto. E se você não for, tudo bem. Você não é um monstro por isso. Mas nós precisamos fazer isso se queremos engordar o nosso movimento lindo com conteúdo sólido, com conceito, com argumento dos bons! E se o nosso argumento não for o mais forte, que a gente possa mudar de ideia. Mudar não é vergonha. Vergonha é passar a vida bebendo certezas fáceis e recusando as perguntas que incomodam.


Reflexões de uma lagarta no Facebook

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

As Anas e Marias que descobriram o aborto seguro

por Letícia Bahia



A notícia da gravidez caiu como um caminhão de entulho sobre os ombros de Ana. O salário baixo mal pagava a farinha dos 3 filhos. O marido estava desempregado e andava flertando com a bebida. Desesperada, ela pediu ajuda a Maria. Anos antes, Ana soube que a vizinha também estivera grávida, e fez coro aos que julgaram a mulher pelo misterioso desaparecimento daquela gestação. Maria semi-sorriu condescendente, metade vingada, metade solidária. "Tem um jeito", confidenciou, "e não precisa de doutor". Contou a Ana o que alguma outra Maria tinha lhe contado dois anos antes: bastava comprar na farmácia os comprimidos - "uns 6, 8" - que resolveriam a barriga. "Vai doer", advertiu, "vai sangrar. Mas é assim mesmo", arrematou.   

As Anas e Marias que descobriram e disseminaram o aborto seguro no boca a boca se perderam no tempo, mas o legado que elas começaram a construir segue ajudando mulheres cuja escolha o Estado tenta, em vão, roubar. Essas mulheres não eram médicas e talvez não fossem feministas. Foram brasileiras comuns, anônimas, que descobriram meio sem querer o método mais seguro para interromper uma gravidez.


Um relatório publicado em 2008 pela Organização Mundial da Saúde em 2008 estima que 21,6 milhões de mulheres se submetem anualmente a uma das inúmeras formas de aborto inseguro - 85% deles acontece em países em desenvolvimento, como o Brasil. E, apesar de tudo que a Medicina já sabe sobre a eficácia e a segurança do aborto seguro, anualmente 47 mil desta milhões de mulheres morrem por complicações decorrentes de interrupções inseguras da gravidez.

Fonte: Organização Mundial da Saúde


A história do aborto seguro começa em 1986, quando o Brasil aprovou a comercialização de um medicamento para úlcera. Na bula, lia-se que o remédio não deveria ser usado por gestantes. Apesar disso - ou exatamente por causa disso -, Anas e Marias desesperadas por um aborto começaram a usar o Cytotec. Funcionou. De maneira espontânea, descentralizada e orgânica, os rumores sobre a pílula do aborto espalharam-se em velocidade espantosa. Não foi a internet nem a televisão, mas a necessidade das brasileiras a responsável pelo rápido crescimento nas vendas até o primeiro semestre de 1991, quando o Ministério da Saúde impôs restrições drásticas a sua comercialização. A utilização do misoprostol - princípio ativo do Cytotec - como método abortivo chegou a tal ponto que, em 1990, cerca de 70% da mulheres hospitalizadas por conta de abortos relataram o uso da droga. 


A experiência das mulheres brasileiras chamou a atenção da comunidade médica, que finalmente começou a estudar as propriedades abortivas do medicamento da Pfizer. Hoje, o misoprostol está na lista de medicamentos essenciais da OMS. O aborto com os comprimidos, embora doloroso, tem alta eficácia e baixo risco, sobretudo quando combinado com mifepristona, droga que também está na lista da OMS.


A intervenção do estado brasileiro inventou um mercado negro de comprimidos cuja eficácia não é passível de comprovação, e uma pesquisa conduzida pelo especialista em Saúde Pública e professor adjunto aposentado do Instituto de Medicina Social da UERJ, doutor Mario Monteiro, estima que em 2013 cerca de 700 mil brasileiras recorreram a um aborto inseguro.


As brasileiras que inventaram o aborto seguro perderam-se na História, e certamente não sabem quantas vidas já salvaram desde os anos 80. Diante da impossibilidade de recorrer ao estado e à Medicina, brasileiras comuns, sem formação específica, descobriram e disseminaram organicamente uma solução que lhes devolveu a autonomia sobre o próprio corpo. Apesar da dor - física e emocional - e dos riscos que elas desconheciam, nossa Anas e Marias foram e continuam sendo a prova viva - ou morta - de que quando mulheres se deparam com uma gravidez que não é bem vinda, elas recorrem ao aborto ilegal, qualquer que seja o custo para sua saúde. Sem o respaldo das instituições que deveriam ajudá-las, elas descobriram uma solução. Até quando seguiremos na clandestinidade?







segunda-feira, 4 de maio de 2015

Cinefeminismo

por Letícia Bahia



Essa lista é pra a gente aprender. Cada novo filme ou documentário que eu assistir - e gostar! - vem pra cá com uma pequena resenha, trailer e, quando possível, link para o longa na íntegra. Isso quer dizer que essa postagem nunca vai parar de crescer. A lista também pode incluir filmes sobre a luta LGBT, sexualidade e outros temas que dialoguem com o feminismo.

Então, se você assistiu algum filme daqueles imperdíveis - ênfase para documentários, porque o objetivo aqui é aprender - me manda um email, uma mensagem no Face do Lagarta ou sinal de fumaça. E se você já viu algum dos que está na lista, conta aí nos comentários o que achou!

A lista vai ficar mais legal com a ajuda de vocês.

Classificação: bom (!), excelente (!!), tá de sacanagem que você não viu ainda (!!!)
Em ordem alfabética:

After Tiller (2013) !!
Em 2009, George Tiller foi assassinado a tiros dentro de sua igreja. O doutor Tiller era um dos 5 médicos dos EUA a performar abortos depois do terceiro trimestre de gestação. O documentário acompanha a rotina dos 4 profissionais que seguem realizando esse tipo de procedimento. Mas não espere respostas: o que você vai encontrar aqui são histórias duras, pessoas mudando de opiniões, dilemas morais. Um aprofundamento fundamental para quem ainda acredita que a questão do aborto se resume a ser contra ou a favor.


Free the Nipple (2014) !
Lina Esco dirige, estrela e é co-roteirista deste longa, que conta a história de uma ativista pelos direitos das mulheres. Realidade e ficção se confundem: Lina também é ativista, e as dificuldades que enfrentou nas filmagens por colocar mulheres com o torso nu nas ruas de Nova Iorque levaram-na a lançar Free The Nipple como uma campanha, meses antes de finalizar o filme.

torrent do filme para download

The Invisible War (2011) !!
No exército dos EUA, uma mulher tem mais chances de ser sexualmente abusada por um colega do que de ser atingida por fogo inimigo. Indicado ao Oscar de melhor documentário, The Invisible War joga um pouco de luz na tragédia dessas mulheres. Das sequelas às tentativas de acobertamento, esteja preparado para um soco no estômago.

filme na íntegra (legendas em português)

Meninas (2005) !!
A diretora Sandra Werneck acompanhou a gravidez de 3 adolescentes, a mais nova com apenas 13 anos. O documentário é de uma sensibilidade única. Aqui quem conta as histórias são as próprias garotas e suas famílias. A narrativa da diretora é discreta, permitindo ao espectador formular livremente suas opiniões. Mas depois de conhecer Luana, Evelin e Edilene, talvez você prefira calar. 

trailer

Miss Representation (2011) !

A representação da mulher na mídia americana é o tema deste documentário, que intercala trechos de propagandas, filmes e programas de TV com depoimentos de adolescentes e personalidades como a ex-secretária de estado Condoleezza Rice. Dados desconcertantes mostram que a realidade da mulher nos EUA está sofrendo forte influência dos meios de comunicação. O cenário desalentador inclui aumento nos índices de anorexia e depressão, mais nudez feminina na televisão e um diminuto número de mulheres em cargos de liderança.

trailer (em inglês)
filme na íntegra (legendas em português)

Orgasm Inc (2009) !!!
Cirurgias plásticas na vagina, procedimentos invasivos na coluna, remédios, muitos remédios. Você não vai acreditar na quantidade de procedimentos médicos que vem sendo desenvolvidos pela indústria farmacêutica depois que a própria indústria farmacêutica conseguiu autorização do governo americano para tratar mulheres que não gozam como doentes. Com um bom humor surpreendente, Liz Canner passou 9 anos entrevistando especialistas e mulheres que testaram os mais bizarros procedimentos. O resultado é emocionante e certamente vai fazer você reexaminar sua própria relação com sexo e com o seu corpo.

O filme não está disponível gratuitamente, mas está no catálogo do Netflix.

The Times of Harvey Milk (1984) !!!
O longa arrebatou o Oscar de melhor documentário, e anos depois serviu de base para o roteiro de Milk, estrelado por Sean Penn. O ativista Harvey Milk foi o primeiro gay assumido a se eleger nos EUA para um cargo público, em uma São Franciso efervescente, que graças a Milk sediou a primeira parada gay do mundo. Junto com o prefeito da cidade, Harvey foi assassinado dentro da prefeitura por um inimigo político de ambos. Incrivelmente atual, este filme vai fazer você querer levantar do sofá pra mudar o mundo. 


Tomboy  (2011) !!!
Uma história doce e amarga sobre como aprendemos e ensinamos as performances de gênero - e sobre como isso rouba liberdades. Contar mais do que isso seria estragar uma das primeiras surpresas desse longa sublime.

trailer (legendado)
O filme não está disponível gratuitamente, mas está no catálogo do Netflix.

Vessel (2014) !!
Foi trabalhando como ativista do Greenpeace que a médica holandesa Rebecca Gomperts tomou conhecimento das mulheres que morriam mundo afora por complicações decorrentes de abortos inseguros, realizados das maneiras mais insalubres imagináveis, e normalmente em mulheres negras e pobres. Vessel acompanha a trajetória de sua ONG, que realizava abortos seguros em alto mar, e as estratégias de Rebecca para empoderar mulheres em todo o mundo. Nesse documentário você vai descobrir como Rebecca tornou o aborto seguro uma realidade possível para qualquer mulher, em qualquer lugar.


Violência Obstétrica - A Voz das Brasileiras (2012) !
Uma compilação de relatos de mulheres que não tiveram escolha sobre como, onde e quando dariam à luz. De falta de informação a episiotomias não autorizadas, o documentário reúne histórias do país que lidera o ranking mundial de cesarianas. É preciso ter estômago pra assistir.

quinta-feira, 26 de março de 2015

Aborto seguro no Brasil: como fazer

por Letícia Bahia


Eu devia ter uns 16 anos quando ouvi falar sobre o barco do aborto pela primeira vez. Estávamos no início dos anos 2000, e a médica holandesa Rebecca Gomperts, fundadora da ONG Woman on Waves, levava seu navio para países onde o aborto era ilegal com o objetivo de ajudar mulheres que desejassem interromper sua gravidez. Seu plano era embarcá-las e realizar o procedimento de maneira segura em alto mar, onde a lei internacional estipula que a embarcação deve obedecer à legislação do país de origem (na Holanda, o aborto é legal). 


Rebecca Gomperts chega à Polônia com o navio da Woman on Waves

O navio passou por Irlanda, Portugal, Espanha, Polônia. Aqui no Brasil, os jornais faziam chegar a marola do "barco da morte", e a discussão sobre o aborto me alcançou na inexperiência dos meus 16 anos. Lembro-me de ter achado o plano de Rebecca genial e incrivelmente audacioso. Mas acho que eu era contra o aborto, porque me lembro de repetir à exaustão um argumento que ouvira de um médico na TV: era irresponsável, eu dizia, levar as mulheres para abortarem, devolvê-las à costa e depois partir para o próximo porto. E se houvesse complicações? Rebecca e sua equipe simplesmente não estariam lá para dar suporte às pacientes depois do aborto.

À época eu não sabia que 1 milhão de brasileiras fazem aborto a cada ano, nem que o procedimento realizado de forma insegura mata 13% das mulheres que recorrem a ele. E eu não sabia, até esta semana, que graças ao trabalho de Rebecca é possível realizar um aborto seguro no Brasil.

O site da Woman on Web, organização filha da Woman on Waves e também comandada por Rebecca, disponibiliza informação, suporte médico online e - o mais importante - pílulas de misoprostol e mifepristona, que são enviadas pelo correio a partir de um fornecedor na Índia.

A ONG adverte para o risco de os comprimidos não chegarem, já que o misoprostol - que aqui ficou conhecido com o nome comercial de Cytotec - é proibido no Brasil, apesar de constar na lista de medicamentos essenciais da OMS. Mas sim, é possível realizar um aborto seguro no Brasil.

Os esforços de Rebecca vão no sentido de divulgar informações sobre o aborto seguro, também conhecido como aborto médico, e tornar os comprimidos acessíveis às mulheres. Se o debate político parece estar trancado por aqui, o fluxo de informações que a Woman on Web faz circular avança com a potência de um tsunami.

Algo impossível parecia estar acontecendo quando o site da ONG se abriu na tela do meu PC. Era como se eu acessasse o Facebook de uma casinha na Coréia do Norte. "Este site irá pôr você em contato com um médico que poderá proporcionar-lhe um aborto medicinal". Era isso mesmo que estava escrito? Era isso mesmo que eu estava lendo, no mesmo país que matou Jandira Magdalena dos Santos?

Esfreguei os olhos e a miragem na tela brilhante não se desfez. Eu pensei nas amigas que já fizeram um aborto e nas desconhecidas que morreram por tentarem. E então um pensamento me atingiu como uma flecha: "preciso contar isso para mais mulheres". 





segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Carta aberta a Jandira

por Letícia Bahia



Há exatos 6 meses, Jandira Magdalena dos Santos saiu de casa para fazer um aborto e nunca mais voltou. Alguns dias depois, escrevi esta carta.


***

Querida Jandira,

Hoje, dia 4 de setembro de 2014, eu fiquei sabendo que você está desaparecida desde o dia 26 de julho deste ano. Você saiu de casa pra realizar um aborto, Jandira, e nunca mais voltou. 


Você engravidou de um homem com quem não tinha um relacionamento sério. Porque você é brasileira, não pôde optar por interromper a gravidez de maneira segura. Não, Jandira. Se você for encontrada e tiver realmente realizado o aborto, você será enquadrada no artigo 124 do código penal brasileiro, que prevê de 1 a 3 anos de prisão pra você.

Mas a verdade, Jandira, é que você já nasceu condenada. Você é uma mulher em um país que não te enxerga. Tenho amigas que já realizaram um aborto. Todas sobreviveram, diferentemente do que – temo – pode não ser o seu caso. Se você ainda está viva, Jandira, o estado vai tentar te encarcerar. 

No dia 26 de julho, segundo li nos jornais, você se despediu do seu ex-marido, que a levou ao terminal rodoviário de Campo Grande, no Rio, e nunca mais voltou. Ninguém pôde te acompanhar. Você não pôde exigir da pessoa que realizaria o procedimento seu registro no CRM. Será que era mesmo um médico? Você não teria como comprovar a higiene do local onde se realizaria o aborto, nem como saber a procedência dos medicamentos que lhe dariam. O que você faria se notasse que algum deles estava vencido? Você não poderia fazer nada, Jandira, porque você é, para o estado brasileiro, uma criminosa. A clínica para onde você supostamente foi levada é um lugar clandestino, e para as pessoas que te ajudaram a levar a cabo sua escolha o código penal prevê reclusão de 1 a 4 anos.

Sei que não é fácil abrir mão de uma gravidez. Já flertei com esse dilema, Jandira, quando há muitos anos achei que pudesse estar grávida. Nessa ocasião, me imaginei andando pela vida sem um pedaço, sentindo culpa, me perguntando se me tornaria estéril. Mesmo nos países em que o aborto é realizado legalmente e com todas as garantias possíveis, é um pedaço que se vai. Não posso dizer que seja traumático para todas, mas é preciso ser louco pra não perceber que interromper uma gravidez não é uma escolha fácil. Não é um cisto. Não é um apêndice. Não é o dente do ciso. Jandira, eu admiro você pela coragem da sua escolha. Lamento, lamento profundamente que não lhe tenha sido permitido realizar essa escolha, por si só tão difícil, com o mínimo de dignidade e com uma mão amiga para segurar a sua. 

Você poderia ser eu, Jandira, e você é muitas outras. Pesquisei alguns números antes de escrever esta carta, mas você sumiria diante do mar de mulheres que passa pelo que você passou, e eu não quero que você suma. Eu quero que você grite, que possa contar ao mundo o que você viveu. Você não é um número. Você é Jandira Magdalena dos Santos, de 27 anos. Você é eu. Não é possível que ainda se acredite que o lugar adequado pra você seja a cadeia, Jandira. Não é possível que reduzam seu dilema, sua escolha a um reles “fez, agora aguenta”. Não é possível que não entendam que o aborto já é por si só algo terrível, que todas as mulheres desejam ardentemente nunca vivenciar. 

Eu não sei mais o que dizer, Jandira. Estou profundamente tocada com sua história, e sinto vergonha da maneira como meu país trata você. Desejo que você seja encontrada sã e salva. Desejo poder te dar um abraço e dizer frente a frente que você não está sozinha.


***

Jandira foi enterrada em 28 de setembro de 2014. Mãe de duas meninas, ela morreu durante o aborto e seu corpo foi encontrado carbonizado, sem as impressões digitais e sem a arcada dentária. Um exame de DNA comprovou a identidade.


* texto originalmente publicado no Facebook pessoal da autora em 4 de setembro de 2014

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Para homens, sobre o aborto

por Letícia Bahia


Escrevi outro dia um texto, o Tutorial do homem feminista, em que disse que aborto não é assunto de homem. Penso que a decisão de interromper ou não uma gravidez deve caber inteiramente à gestante, mas escrevo esse texto para conversar sobre aborto com quem tiver interesse em discutir o tema. Menstruação e câncer de mama também são assuntos de mulher, mas isso não significa que nós não possamos conversar com homens sobre isso, como apontaram alguns amigos que leram o Tutorial.

A primeira coisa a dizer é que ninguém é a favor do aborto. Eu não sou a favor do aborto. Sou a favor de Educação para todos, das cotas universitárias para negros, do fim do voto obrigatório. Estas são coisas que eu desejo que aconteçam. Eu não desejo que abortos aconteçam: apenas não quero impedir mulheres que queiram abortar de levar sua decisão a cabo. Quem discute a partir desse viés está preso à parte rasa do debate. A questão é a legalização do aborto. Se eu sou pessoalmente contra, se minha religião proíbe, se eu abortaria ou não, isso pouco importa. Eu não preciso gostar de carros para defender o direito de as pessoas tirarem carta de motorista. Gosto de tomar cerveja, mas ainda que não gostasse, defenderia o direito de uma pessoa adulta optar por ingerir as substâncias que desejar. Você poderá rebater: "mas, Letícia, você acha que as pessoas devem poder dirigir embriagadas? Acredita que o sujeito deva poder fazer escolhas livremente mesmo quando isso coloca em risco a vida de outros?". Não, eu não acho. Aliás, esse deve ser exatamente o limite das liberdades individuais, e aí chegamos no ponto em que a questão do aborto atinge seu pico de delicadeza. Então vamos prosseguir com calma, que delicadeza e pressa na mesma equação costumam resultar em cacos e sangue.

Sou favorável à realização de aborto sempre que essa for a decisão da gestante, em qualquer momento da gravidez. Contudo, neste texto quero tratar da interrupção voluntária até a décima segunda semana*, situação em o próprio Conselho Federal de Medicina é favorável à possibilidade de aborto. A partir deste momento, duas coisas tornam a coisa mais complicada. Número um: passa a haver risco de morte para a mãe. Penso que cada um deve ser o senhor de seu próprio corpo, tendo inclusive o direito de submetê-lo a riscos como usar drogas, praticar esportes radicais, dirigir no trânsito de São Paulo ou submeter-se a um aborto. Mas não vejo problema em a classe médica não querer implicar-se no risco de morte de outrem. Estão os médicos em seu direito, penso eu. 

Mas o cume da delicadeza está no segundo aspecto da décima segunda semana: até então, o embrião não desenvolveu seu sistema nervoso central. É somente a partir deste ponto que ele começa a pensar e sentir. Antes disso o aborto  não representa nenhum tipo de sofrimento para o feto. Pode parecer cruel, mas até a décima segunda semana um aborto é para o feto como a serra elétrica é para uma árvore: doloroso para quem vê, mas irrelevante para quem experiencia. Uma árvore e um feto são igualmente desprovidos de sistema nervoso central, estrutura na qual têm lugar todas os processos químicos que produzem tudo o que chamamos de afeto, sentimento, cognição, sensação, consciência, etc.

"Letícia, mas um embrião carrega toda a potencialidade da vida humana!". É delicado lidar com o porvir. Esse é justamente o ponto em que os homens sentem-se autorizados a opinar sobre o aborto, porque quando morre um feto, parte com ele também um pai que, se não chegou a existir de fato, pode ter vivido a mais plena paternidade enquanto desejo. Lamento por esses pais - e avós, tios, primos e, sobretudo, pela mãe - que quiseram ser e não foram. Lidar com desejos frustrados é realmente doído. Mas o que eu tenho a dizer a estas pessoas, e que me dói dizer porque sei que deve doer ouvir, é o seguinte: "você nunca foi pai porque o fruto do aborto não é mais do que uma estrutura orgânica incapaz de amá-lo ou de receber o seu amor. A criança por quem você chora não existe senão como desejo em um futuro que só existe dentro de você". 

Posso imaginar um paciente ouvindo essas palavras e quebrando os vasos do meu consultório. Às vezes, quando sentimos que a dor é maior do que nós, precisamos que ela transborde e doa também fora de nossos corpos esfacelados. Mas não adianta, porque o lugar de existência do desejo é dentro de nós, e é lá que mais cedo ou mais tarde teremos que realizar a dolorosa digestão da frustração. O pai imaginário - e avós, tios, primos e, sobretudo, a mãe imaginária - existem dentro de cada um. Isto é tão verdade que posso eu, cá enquanto escrevo essas linhas, inventar um pouco de contorno para a mãe que, acredito, um dia serei. Não é preciso que haja gravidez para que a gente construa os pais e mães que sonhamos ser - e que eventualmente teremos que aprender a desconstruir. É assim com casais que não conseguem ter filhos: lida-se com a dor de um porvir que nunca será, com o choro da madrugada que nunca se ouviu, com um diploma de profissão inexistente não pendurado na parede. É das piores dores do mundo essa saudade do que nunca foi. 

O que podemos dizer ou fazer diante de alguém com tamanha dor? Quase nada. Se o desejo é uma produção nossa, também é nossa a responsabilidade de lidar com as dores que dele advenham. Não se pode arrancar a dor do outro. Às vezes a única coisa a fazer é estar junto. E aí retornamos ao ponto inicial: a decisão do aborto cabe tão somente à mulher. 

Não é justo sacrificar mulheres para que não sofram as pessoas ao redor. Não. Se um aborto frustra desejos e isso é doloroso, vamos construir espaços em que possamos lidar com humanidade com essa dor. Não é aceitável que se retire de alguém a soberania de seu corpo sob o argumento de que "eu, homem, tenho direito de não sofrer", ou "eu tenho direito de me tornar o pai que idealizei". Ninguém tem direito a isso. Não sofrer não é direito, é luta cotidiana. Luta-se árdua e diariamente para que que as utopias dos desejos - nossas construções - tornem-se um pouquinho reais, e para que a frustração nos atinja em uma medida não maior do que a que podemos suportar. Não, as mulheres não estão aí para que o mundo festeje o milagre da vida crescendo em seu ventre ou para tornar real a criança que outras pessoas desejam. Nós pertencemos a nós mesmas e vamos continuar morrendo enquanto isso não for compreendido. 

A tragédia final do aborto não são bebês assassinados que existiram apenas na cabeça de gente que, como todo mundo, sonha. O choro que se ouve não é o dos fetos que nada sentiram e nunca choraram, é o choro inconsolável de mulheres como Severina, que deu à luz o filho anencéfalo que onze homens do Supremo Tribunal Federal a fizeram parir. É o choro de Jandira Magdalena dos Santos, que morreu ao realizar um aborto clandestino no Rio de Janeiro. Quem chora são as minhas amigas que já realizaram o aborto que teria sido menos doloroso se não fosse, além de aborto, um crime. 

Por essas mulheres e também por mim eu repito: quem decide é quem aborta. Eu estou aberta a conversar sobre o assunto com qualquer um, independente do gênero, mas eu não estou disposta a conceder a ninguém essa decisão que por direito é da gestante.   


* sobre o aborto após o primeiro trimestre gestacional, recomendo o documentário After Tiller. Aqui tem uma palinha dele. Pegue a caixa de lenços. 
** curta Reflexões de uma lagarta no Facebook   

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Tutorial do homem feminista

por Letícia Bahia


Você assistiu ao discurso da Emma Watson, deu um vibrador de presente para a namorada e leu o primeiro volume d'O Segundo Sexo. "Sou feminista!", você diz, batendo no peito. Calma, querido. Reconhecemos e valorizamos suas boas intenções, mas antes de pleitear sua carteirinha, desce daí e vamos conversar. Veja se você consegue seguir estes conselhos e aí nós avaliaremos a possibilidade de dizer que você é pró Feminismo.

1. Reconheça-se como opressor, mesmo que você - aplausos - nunca tenha estuprado ninguém. Se você estiver concorrendo comigo por um emprego, suas chances são estatisticamente maiores. Quando você é promovido, ninguém suspeita que seu pênis possa ter dado um empurrãozinho. Você faz parte de um gênero que tem mais representatividade política do que o meu. Se eu sair sem camisa, posso ser presa. As pessoas não te julgam pelo tamanho da sua roupa, nem presumem que você é infeliz por ser solteiro depois dos 30. Ah, já ia me esquecendo! Eu também tenho mais chances de ser estuprada do que um homem. Em suma: você tem privilégios que as mulheres não têm. Você é beneficiário do patriarcado.

2. Ouça o que temos a dizer. Essa é a atitude mais pró Feminismo que um homem pode ter. Não queira ocupar um lugar no movimento. Pergunte e aprenda, mas entenda que o Feminismo é um movimento das mulheres. Se isso faz você se sentir excluído, estude um pouco mais o item 1. Fique quieto inclusive diante dos incômodos que esse texto lhe trouxer. O Feminismo se contrapõe a quase tudo que você aprendeu, direta ou subliminarmente, por isso é natural que provoque estranhamento. Lembre-se de que todos os contra argumentos que você acabou de pensar são frutos da cultura patriarcal. Aposto um doce que não tem mulher na lista de pensadores que te ocorreram. Ou você estava pensando em fundamentar sua réplica em Simone de Beauvoir e Gloria Steinen? Ah, você não ia embasar sua opinião? Ia só dizer o que você acha? Faz favor, querido, vai brincar lá fora que isso aqui é conversa de adulto.

3. Seja gentil com pessoas de todos os gêneros. Sabemos abrir portas e até mesmo vidros de palmito. Ser cortês é bacana. Ser cavalheiro é machismo. Ah, e nós também gostamos de segurar a porta do elevador pra você. Será que você consegue conviver com isso?


5. Pare de dar tanta importância à nossa aparência. Não somos o vaso da sua sala, porra. Interagir com desconhecidas na rua nos objetifica, porque a única coisa que te move nessas circunstâncias é a nossa estética. Não queremos o seu fiu fiu, só queremos ir ali onde estávamos indo mesmo. Juro.

Homem beija mulher desacordada.
6. Quando uma mulher disser "não", pare imediatamente. Se for apenas parte do jogo da conquista, talvez você perca a foda da noite ou - oh! - seja taxado de - oh! - frouxo. Se não for, parabéns, você acabou de não se tornar um estuprador. A maioria dos estupros não envolve correntes ou pancadaria. A maioria dos estupros envolve conhecidos da vítima, situações confusas e vínculos emocionais. Importante dizer que desde 2009 uma alteração no Código Penal ampliou a definição de estupro, que passou a abranger não apenas a penetração do pênis na vagina, mas também qualquer ato libidinoso. Talvez nesse momento você tenha acabado de descobrir que já estuprou algumas garotas, como deve ter acontecido algumas vezes com o Ares Bruno, autor do “artigo” Porque não desistir quando a mulher diz não? e co-proprietário da Seduction Life. Vale lembrar que quando uma mulher está desacordada, como a Branca de Neve ou a Bela Adormecida, ela não pode oferecer resistência. Nesse caso, o artigo 217 também tipifica a prática como estupro. Ops, mais alguns meninos se descobrindo estupradores. 


Homem beija mulher desacordada. De novo.
7. Não chame a presidenta de presidente. Sim, nós sabemos que “presidente” é substantivo comum de dois gêneros. Acontece que nós, mulheres, temos pouquíssima inserção nos espaços de poder, e cunhamos essa nova palavra para marcar a presença feminina na política. Se o seu preciosismo linguístico é mais importante do que isso, você é machista.

8. Não existe mulher machista. Estas moças às quais você se refere dessa maneira são vítimas tão cooptadas pelo patriarcado que não se dão conta de que estão reproduzindo uma lógica que oprime seu próprio gênero. Se você assistiu Django Livre vai se lembrar do escravo que tomava conta da mansão, destratava todos ou outros "crioulos" e todos os dias deslizava com delicadeza uma lâmina de barbear no rosto de seu senhor. Você não acha que esse pobre coitado é um algoz, acha?

9. Não nos diga o que fazer. Homens pseudo feminista fazem isso o tempo todo. Outro dia li um texto de um destes espécimes sugerindo que as mulheres parem de usar sabonete íntimo, "porque homem de verdade gosta de cheiro de boceta". Falocentrista até não poder mais. Será que eu devo agradecer pela liberdade concedida? Mais alguma instrução para minha higiene pessoal?

10. Não, vaca não é a sua mãe, nem a minha, nem a do seu chefe, muito menos a presidenta. Vaca é a mãe do bezerro. Mulheres que dão para quem quiserem tem outro nome: livres.

Se você chegou até aqui sem ímpetos de contra argumentação ou de "mostrar pra ela", ótimo, você está caminhando para desconstruir seus machismos. Mas não espere aplausos: lutar por igualdade não é favor. Siga em frente e converse com seus amigos que ainda estão no lado de lá. Mas se você discordou de tudo e está se coçando pra contrariar o item 2, você encontrou a feminista certa. Sou um poço de paciência, explico de novo e de novo até você entender. Mas antes de deixar seu comentário me chamando de feminazi, estude, estude muito, porque homem machista não gosta de perder discussão pra mulher.